domingo, 7 de setembro de 2014

Quanto tempo dura um piscar de olhos?

Isso depende, na verdade varia, e não tem necessariamente nada a ver com o momento em que nossos cílios se entrelaçam e se despedem novamente. Tem a ver com o flashback que nos proporciona. Eu explico.

 

Na última piscada que eu dei eu estava sentado na beira da piscina de casa, com minha família, minha namorada, e alguns amigos, e não podendo deixar de mencionar, com a Sol de um lado e a Cheeta do outro, disputando meu carinho, parecendo preverem o que estava pra acontecer em algumas poucas horas.

Quando eu abri o olho eu já estava a 9.000km de distância e uma semana à frente no tempo, descendo uma ladeira num céu laranja sendo engolido por uma nuvem roxa. Considero todo pôr do sol especial, mas os de domingo são mais. Tenho isso comigo desde bem criança, quando num final de tarde dominical, na frente da casa da minha querida vó Neuza, ela disse: “é meu filho... mais uma semana que se vai”, e lá se foram, na verdade, vó, anos e anos. Desde então, todo domingo, quando cai a noite, eu me lembro dela e desse seu comentário, que sempre me fez refletir sobre a fúria do tempo. Foi quando eu decidi sentar aqui pra escrever sobre.

 

No curto espaço de um milésimo de segundo se passaram 7 dias, nos quais eu fui mais um vez ao meu lugar favorito na cidade do Rio (o Aeroporto Internacional); enfrentei mais um voo de mais de 10 horas; peguei um ônibus carregando 4 bagagens; reencontrei a querida Promenade des Anglais, onde havia desembarcado do mesmo ônibus há 4 anos, com menos bagagem (de viagem e cultural), mas, igualmente, sem saber exatamente como chegar ao devido apartamento; me instalei numa nova “casa” (que não posso devidamente chamar de casa, uma vez que tem o mesmo tamanho do quarto que eu deixei no Brasil); fiz compra semanal, pois mensal não tenho como carregar nem subir as escadas; almocei com um amigo e conheci seu filho, Felipe Massa; fui à Itália (que fica a meia hora de Mônaco) só porque não tinha nada pra fazer e queria tomar um gellatto como sobremesa; me empolguei com a organização e alto nível da minha nova universidade (International University of Monaco); fiz novos amigos de algumas nacionalidades diferentes; sofri com a greve de trem; encontrei um tatame pra treinar; fui a festa; chorei; ri; e liguei o ventilador a noite, mesmo sem estar com calor, só pro barulho não deixar a solidão falar muito alto e me deixar dormir melhor.

 

Na penúltima piscada que eu dei, voltei pro ano de 2010 e recordei alguns dos muitos momentos que vivi aqui em Nice durante um mês e na consequente Eurotrip de dois meses, memórias que um post não seria capaz de enumerá-las, um livro talvez será...

 

Ontem numa festa tradicional, com muita música, dança e barraquinhas de comida típica, ocorreu um belo show de fogos de artifício e naquele instante em que a pólvora explodia multicoloridamente no ar me lembrei de um dizer escrito numa camisa minha: “toda explosão é uma nova criação”, numa alusão ao Big Bang, a primeira grande explosão de todas, mas que se aplica a tudo na nossa vida. Pra vir pra cá, deixei pra trás, ainda que momentaneamente, minha família, minha namorada e alguns amigos, e não podendo deixar de mencionar, a Sol de um lado e a Cheeta do outro, disputando meu carinho, parecendo preverem o que estava pra acontecer em algumas poucas horas... o que pode ser considerado de certo modo uma “explosão”, uma ruptura, mas que se fez necessário para que uma nova criação viesse a ocorrer. Deixei pra trás também o meu quarto (que é do tamanho da “casa” que eu tô morando agora), indubitavelmente estou fora da minha zona de conforto, mas definitivamente estou prestes a criar, conquistar, algo que minha zona de conforto jamais me proporcionaria. E que bom que essa explosão se deu antes que eu piscasse e ao abrir os olhos, visse no espelho um homem de cabelo grisalho.

 

Gostaria de terminar esse post com cinco frases, que não são minhas, mas que as tenho como lema... sugiro a reflexão, preferencialmente com os olhos “piscados”:

 

1)    As pessoas reclamam por ter os mesmos “fins”, sem perceber que realizam os mesmos “meios”.

2)    O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza dos seus sonhos.

3)    Não sabendo ser impossível, foi lá e fez.

4)    Quem ousa vence.

5)    Deus proverá.





sexta-feira, 20 de junho de 2014

Efeito Borboleta

O bater das asas de uma borboleta pode influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo...esta é a forma mais popular de explicar (ou entender) o Efeito Borboleta, que se insere na Teoria do Caos, mas que de forma mais coloquial quer dizer que os mais simples acontecimentos podem gerar eventos de proporções colossais. E é sobre isso que venho falar hoje: como um olhar de relance à quilômetros de distância de casa pode te levar a uma abertura de copa do mundo no seu país. Era agosto de 2010, eu estava numa pequena ilha da Croácia chamada Pag, mais especificamente em Novalja, na praia de Zrce. Eu e meu irmão tínhamos pulado pra dentro de um beach club e também pra dentro da área vip. Iniciamos nossa "volta" de reconhecimento e por estar muito cheio, eu fui na frente e meu irmão vinha logo atrás. Foi nesse momento que meu irmão puxou minha camisa e disse: “Leo, vem aqui agora! Vem ver essa mulher!!!”, de cara eu neguei, mas a insistência dele foi tão grande que eu resolvi conferir. Ela estava num pequeno camarote acompanhada de um amigo, e logo depois chegaria o seu namorado, Tomislav, um cara gente finíssima, que desde o início demonstrou imensa simpatia e hospitalidade comigo e com meu irmão. Sem querer querendo acabamos passando a noite toda ali com eles três, e quando já eram quase 6 da manhã, ele pediu pra que eu anotasse o seu telefone e ligasse ao acordar, para que pudessemos nos encontrar naquela mesma praia, onde nos apresentaria outro amigo que estava vindo de outra ilha passar o domingo com eles. Se tratava de Ivan Debeljak, um dos cara mais gente boa que já conheci na vida e que em 5 minutos eu já sabia que se tornaria um grande amigo nosso. Dito e feito, aquela tarde que passamos na praia e posteriormente no Papaya Beach Club (o mesmo que estávamos na noite anterior) foi o suficiente para trocarmos os contatos e prometermos uma visita a Vodice, ilha na qual ele estava trabalhando durante aquele verão. Como somos homens de palavra, alguns dias depois lá estávamos chegando para passar dois dias ensolarados sob os cuidados de Ivan, que nos arranjou apartamento, comida e entretenimento. Ao me despedir dele e do meu irmão (que ainda seguiu viagem e conheceu outras três ilhas com ele) o fiz prometer que me visitaria no Brasil para que eu pudesse retribuir toda sua hospitalidade. Ele prontamente aceitou, jurando que o Rio de Janeiro era o destino com o qual ele mais sonhava em conhecer. De lá segui meu caminho Europa à dentro. Um ano depois eu recebi a grande notícia de que ele estava com tempo e dinheiro para vir ao Brasil passar umas duas semanas, e além disso, perguntou se poderia trazer um amigo (que nem eu nem meu irmão conhecíamos) e que também sempre quis conhecer nosso país. Eu confesso que fiquei um pouco ressabiado, pois nunca se sabe né, vai que o cara é um pé no saco... mas meu irmão confiou na noção do Ivan, até mesmo por tê-lo conhecido por mais dias do que eu, e estava certo de que o amigo dele seria tão legal quanto ele. Meu irmão estava mais do que certo, pois se tratava de Zvonimir Sedlic (que eu logo tratei de apelidar de Zuzu, pra simplificar pra todos), um dos seres humanos mais extraordinários que já conheci, um cara de espírito elevado, alegria contagiante e generosidade sem fim. Sem sombra de dúvidas está no topo da lista dos meus melhores amigos. As duas semanas que nós quatro passamos aqui no Rio foram de diversão interminável, e principalmente de estreitamento de amizade, o que é mais importante. Em 2013,resolvi que era hora de retornar à querida Croácia, perto de completar 3 anos desde a minha primeira visita. Lá passei 20 dias excepcionais, mais uma vez com a hospitalidade de Ivan e toda atenção possível de Zuzu. Pude conhecer suas famílias e outros amigos, além de suas casas e seu jeito de viver. À esta altura já não éramos mais amigos, e sim irmãos. Um detalhe interessante foi poder perceber que Zuzu se tornara o seu apelido oficial, mesmo entre àquelas pessoas que não me conheciam, inclusive a sua namorada. O batismo que realizei na beira da piscina da minha casa em frente a churrasqueira, cruzou o oceano e se auto registrou em algum cartório de Zagreb. E todo esse efeito cascata que eu estou contando teve como seu maior divisor de águas o dia 06/12/2013, quando no sorteio da fase de grupos da Copa do Mundo de 2014, o Sir. George Hurst, sorteou a bolinha que continha o nome da seleção que enfrentaria o Brasil na abertura da Copa. E eis que Jerome Valcke revelou para milhões de espectadores o papelzinho com o seguinte nome: CROATIA. Não tive outra reação a não ser gargalhar e pegar meu telefone pra ligar pra Ivan e Zuzu. Foi uma comemoração digna de gol. Logo de cara, sem nem dizer alô, Zuzu já foi logo dizendo: me parece que te visitarei em alguns meses. Não somente, viria munido de tickets, alheio a especulação de impossibilidade da compra dos tais que inundava o Brasil àquela altura. Eu mesmo, confesso que nem tentaria comprar ingressos, tamanha incredulidade. Porém, por que a vida é bela, 16% dos ingressos de cada partida são reservados para os cidadãos das respectivas seleções a jogar (8% para cada), ou seja, dos +- 65 mil ingressos à venda para o jogo de abertura, cerca de 5000 seriam exclusividade dos croatas, e analisando o tamanho de sua população e o número de pessoas aptas a virem ao Brasil durante a copa, esse era um número animador. Além disso, não satisfeito em ser cidadão croata, Zuzu é membro da Associação Croata de Futebol, o que lhe dava preferência de compra, nos dando 99% de certeza de ter ingressos. E o tempo elevou essa porcentagem para 100%, quando ele conseguiu não somente um par de ingressos, mas meia dúzia, para que pudéssemos assistir ao vivo ao evento de maior audiência no mundo que só ocorre a cada 4 anos (sim, a abertura da copa é mais assistida do que a própria final). E como havia ocorrido em 2011, quando o Ivan pediu permissão para trazer um amigo, dessa vez, em 2014, Zuzu pediu para trazer três (que eu não conhecia) Diferentemente da outra vez, agora nem titubeei, dei o Ok no ato, certo de que eles seriam da mesma "categoria" de Zuzu e Ivan (este que infelizmente não poderia vir por motivos de trabalho). Enfim... O tão sonhado dia 12/06/2014 chegou e lá estávamos, em São Paulo, eu, meu irmão, Zuzu e seus (agora também nossos) amigos croatas, prontos para ver não só o jogo de abertura entre nossos países, mas também toda aquela festa que ocorria, seja extra oficial, ainda fora do estádio, como a da FIFA, do lado de dentro, que foi sim bem bonita e emocionante, ao contrário do que todos os haters cornetaram nas mídias sociais. De quebra, ainda matei saudade dos meus tempos de guia de turismo e levei minha turma de croatas pra Manaus (eleita a melhor cidade sede da Copa), para que assistíssemos ao duelo entre Camarões e Croácia. Obviamente aproveitamos para também conhecer a floresta amazônica e muitos dos seus encantos: encontro das águas, rios, vegetação, boto cor de rosa, preguiça, cobra, jacaré, aldeia indígena etc... Um velho desejo que só realizei ao receber a visita de 4 amigos europeus, ironia do destino, mas a vida tem dessas coisas. Foram 12 dias de muita amizade, alegria, gargalhadas, aventuras e viagens... Nesse momento eles estão num voo da KLM, rumando ao velho continente, e certamente já deixaram saudade. Porém a grande conclusão desta viagem feita em casa é que da mesma forma que o bater de asas de uma borboleta pode causar um tufão do outro lado do mundo, um simples olhar sugerido pelo seu irmão pode te colocar num jogo de abertura da Copa do Mundo.