segunda-feira, 29 de abril de 2013

Upgrego! Presente de grego é cavalo de tróia (ou burro de Santorini)

Certa vez, quanto voltávamos de Novalja para Rijeka (Croácia), meu irmão me atinou para algo que eu nunca tinha parado para perceber, apesar de seu imenso valor: como é bom chegar em uma cidade em que já conhecemos! Ter estado por uma única vez, por mais rápido que tenha sido, em qualquer cidade que seja, muda completamente a concepção daquela nova chegada. O stress é menor, a confiança é maior, e o desconhecido que muitas vezes além de empolgar também assusta, dá lugar à firmeza de pisar num terreno já mapeado. O simples e mínimo senso de direção de, por exemplo, por qual saída de uma estação de trem sair pode determinar o sucesso da sua chegada... Uma saída pode te botar de cara pro seu hotel, enquanto a outra pode te colocar a girar como cachorro mordendo o próprio rabo ao redor do quarteirão.
Mas o que me faz trazer essa questão à tona é minha relação de idas e vindas, lidas e vidas com a Grécia.
Atenas e suas ilhas satélites, têm comigo uma relação intensa e empática, que se estreita ano após ano... Minha história grega, bem mais moderna que seus monumentos e deuses, começou atravancada, uma vez que por 5 vezes tentei, sem sucesso, comprar uma passagem para lá (problemas com a internet/cartão). Como já mencionei anteriormente aqui no blog, estava em Nice tentando resolver meu destino, ingenuamente, sem ainda saber que o destino se decide por si só. Após a 5ª tentativa, desisti; soube esperar o meu momento. No dia seguinte eu recebi uma mensagem em inglês, no meu número francês: seu irmão está no trem paris - nice, e chegará aí às 22:30. Ele não tinha como te avisar e pediu para que eu te enviasse esse sms. E assim fui eu, seguindo o meu destino, buscar meu amado irmão no Gare de Nice Ville. A sensação de ver aquele trem chegar com seus dez minutos de atraso, uma multidão tal qual uma boiada sair de suas portas e por ultimo, um viajante cansado carregando um mochião nas costas é de alegria indescritível. Corri com a vista embaçada e abracei meu irmão, carreguei sua bagagem e o levei pra casa, onde o dei comida e um travesseiro pra dormir. Dias depois decidimos ir a Croácia (a Grécia não o apetecia). Já em Zagreb, amada Zagreb, caminhando pela rua, despretensiosamente, passei por um escritório da Croatian Airlines e resolvi entrar e pesquisar por passagens... Resumo da ópera: encontrei uma super promoção de ida e volta para Atenas, por menos de 100€, mesmo eu não precisando da passagem de volta, valeria a pena. E como a ticketagem aérea não tem bom senso, uma passagem ida e volta sairia mais barata que somente de ida. O gentil vendedor me informou que se eu enviasse um email comunicando minha abstinência daquele voo de volta, receberia as taxas aeroportuárias de embarque reembolsadas no meu cartão (acreditem, isso funcionou). Era uma amada cidade me jogando nos braços de outra a conquistar. E assim meu destino se fez traçado, no seu momento certo.
Meu primeiro relacionamento com Atenas foi de tapas e beijos... Vi a manjedoura da civilização moderna em Acrópolis, mas vi também a decadência de uma civilização contemporânea afetada por suas crises e desemprego, onde muitos recorrem a heroína, que apesar do nome, é vilã. Passei por muitos entorpecidos no meio das sujas ruas, e num crítico momento, vi a ameaça de perto, multiplicada por olhos já sem brilho, quando me perdi entre dois antigos prédios desativados (biblioteca e museus nacionais) que abriram mão da cultura e deram lugar ao oco das drogas. Se tratava da heroinolândia, e quando percebi isso, já estava no meio do seu caminho, e tinha duas opções: ou seguia em frente com cara, coragem e fé, ou voltava, demonstrando medo, insegurança e fraqueza. Segui em frente, até porque meio caminho pra trás e meio caminho pra frente dão no mesmo, então a diante segui e de lá tomei meu rumo às ilhas onde os deuses me tratariam com mais receptividade.
Santorini, Ios e Mykonos, foram as escolhidas (ou que me escolheram, vai saber...), com elegância, jovialidade e hedonismo, respectivamente. Esta última (juntamente com Atenas e a sua "segunda chance" que eu fui forçado a dar) eu tornaria a visitar em 2012, atendendo os pedidos da minha prima. Essas histórias são muitas e dariam mais que um post, dariam um capítulo (de um livro já em produção, que este blog me incentivará a logo terminar).
De lá pra cá, posso afirmar que Mykonos segue bela, mas na segunda vez não repetimos aquela paixão do verão retrasado... Deve ter sido ciúmes por eu estar acompanhado de uma outra mulher (mesmo que com ela eu nada tenha). Atenas resolveu me abraçar de fato, não vi mais aquele terrível clima de drogas, a iminência de protestos devido à profunda crise econômica passaram em branco e sem querer encontrei o restaurante com a vista mais bonita do mundo (acropolis) onde ao tentar fazer uma reserva, vestindo chinelos e segurando um saco plástico nas mãos fui praticamente enxotado de lá, mas ao retornar na mesma noite de calça e camisa social, com minha prima elegantérrima e linda, fui tratado como deus (grego).
Agora Santorini... Eu tenho todas e nenhuma palavra(s) pra descrever. Um lugar desse tinha mesmo que ter "santo" no nome, "rini" deve ter alguma ligação com beleza indescritível. Em 2010 o conheci da melhor maneira possível que meu baixo orçamento permitia, e foi muito válida... Mas agora em 2013, meus caros amigos, eu to nadando braçadas largas! Como meu pai ama dizer: vim na aba! Totalmente. Vim na função de guia, tradutor, gourmet, animador, carregador de mala etc, tudo isso com o maior e imenso prazer, pois estou fazendo isso não pela parte que me é interessante (a aba), e sim para proporcionar a duas pessoas que amo incondicionalmente o melhor aniversário de 25 anos de casados que eles poderiam ter. Como eles mesmos têm repetido ao longo dessa viagem, "você nos trouxe a lugares que jamais imaginamos estar, de uma forma muito especial, e que ninguém mais nesse mundo seria capaz de fazer por nós". Além de encher meus olhos de lágrimas toda vez que eu ouço isso, eu sorrio, e olho pra trás cheio de orgulho de mim mesmo, não pelo o que sou (até porque não sou nada demais, apenas um bandoleiro viajante), nem mesmo pelo o que estou fazendo agora, mas sim pelo o que fui e fiz no passado. Passando pela frente do singelo albergue no qual me instalei em 2010, quando tinha apenas 23 anos, viajava sozinho, com uma pequena mala com pouca roupa, mas com muita de vontade viver e ver o mundo, o apontei para o meu tio, que disse: "que guinada de vida que você deu hein moleque?! (Se referindo ao hotel no qual hoje estamos)"
Eu: "é mesmo tio, foi um belo upgrade... Foi um upgrego!"
Até que então minha tia deu um toque de sábia sutileza maternal e feminina ao nosso diálogo: "ééé, mas foi graças à experiência de ter ficado nesse singelo albergue e ter desfrutado da forma pouco luxuosa que você desfrutou, é que hoje estamos aqui, com você conhecendo cada viela dessa ilha e dirigindo como se estivesse em Niterói". Sem a pessoa que eu fui em 2010, eles não estariam aqui, talvez nem eu mesmo, hoje. Eu poderia ter optado por fazer uma viagem mais curta, confortável e luxuosa, "soquenão", pra crescer tem que sair zona de conforto, optei por prolongar ao máximo minha expedição, e conhecer da forma mais real e profunda possível a maior metragem quadrada do velho continente. Hoje ao me ver pegando sol numa jacuzzi no alto de Fira, muitos queriam estar no meu lugar, mas quantos aceitariam ficar num quarto com mais 9 desconhecidos, e comendo gyros pita por dias só pra economizar mais? No meu caso, uma coisa levou a outra, e eu fui muito feliz nas duas.
O símbolo das ilhas gregas é um moinho de vento, e a vida é sim um moinho, como cartola e cazuza imortalizaram. Há 3 anos eu subi um sem-número de degraus só pra economizar 5€ de burro-taxi e enfim chegar no topo de Fira; hoje eu desci (pois no topo já estou hospedado) de bondinho, só pra depois subir de burro-taxi. 50 cent cantou que "the top feels so much better than the bottom, so much better", e é bem verdade, o segredo da felicidade não é sorrir somente quando se está no topo, essa é a parte fácil, e sim saber sorrir quando se está lá embaixo, pois é justamente essa alegria que pode te levar até la em cima.
Além de lições filosóficas reflexivas que agora divido com vocês, Santorini 2013 está me abraçando, beijando e dizendo que me ama, até porque quem sabe sorrir lá embaixo, aqui em cima gargalha e em apenas 2 dias vivi e fiz viver momentos de inesquecível alegria para mim e para os meus dois pombinhos de prata. São muitos, só que o post já prolongado que vos escrevo me permitirá resumir apenas o que nos aconteceu por último: tenham a certeza de que o dia em que vocês puderem passar a tarde num veleiro, costeando Santorini, comendo uma comida típica, deliciosa e saudável, ouvindo música no volume máximo, enquanto aguardam o por do sol mais bonito do mundo, golfinhos começarem a nadar e pular junto ao seu barco, e quando finalmente o astro rei tocar a água, vocês estourarem uma garrafa de champagne para abrir os caminhos e brindar o dia de hoje pois o amanhã só pertence a Deus (ou aos deuses), acreditem, meu amigos, vocês hão de querer casar com essa ilha, tal qual eu quero e tais quais meus tios renovaram seus votos após 25 anos de casados e fizeram juras de amor eterno... Tudo isso eu vivi, e vi, com esses olhos que mais uma vez se encheram d'água, mas é claro, sem apagar o sorriso de quem a sorrir pretende levar a vida.












sábado, 27 de abril de 2013

I, I follow, I follow you... "Gipsy maybe I'll beat you"

Um post rápido, tão rápido quanto a ação dos gatunos tema desse post.
Cuidado com os seus pertences durante as viagens!!! Quis Deus que eu nunca passasse por isso, mas posso imaginar a desolação sentida por um viajante que teve seus pertences roubados durante sua viagem, sobretudo se seus documentos e dinheiros forem embora nessa. Encerrar prematuramente uma viagem, tendo que ir a embaixada pra requerer uma autorização de retorno ao Brasil não me parece nada interessante.
Como disse, nunca vivi essa experiência como vítima, e claro, também não como vilão, porém quis Deus que eu tivesse o meu dia de mocinho. A cada viagem, você vai amadurecendo, ganhando experiência, ficando com o alerta mais aceso e a vista mais afiada.
No meu grand tour europeu de 2010, vi e vivi muita coisa, e aprendi a evitar a oportunidade e até mesmo a combater o incidente. Brasileiro, com síndrome de cachorro vira-lata, tende a achar o Brasil um antro de pivetes e ladrõeszinhos, e nós de bom senso, sabemos bem que eles existem, mas que também não chega a ser nada digno dos filmes. Digo isso principalmente pelo depoimento de todos os estrangeiros que conheço (não são poucos) que já visitaram o Rio, a porcentagem de reclamação é quase nula. Mas o mais engraçado em relação aos brasileiros com essa síndrome, é que eles acham que a Europa é um continente de primeiríssimo mundo, onde todos estão imunes a estes incidentes. Normalmente são esses os primeiros a serem furtados/roubados, por viajarem numa zona de conforto e desatenção que pode ser fatal.
Voltando ao GTE de 2010, conheci as principais capitais do continente, de Atenas à Estocolmo, de Zagreb à Lisboa, quase todas registram a presença oportunitas, que normalmente vêm de países subdesenvolvidos nos arredores europeus, à procura de um ganha pão, alguns honestasmente, outros não. Uns se dizem "ciganos". Eis que um dia, caminhava tranquilamente pela orla da praia de Barcelona, até que vi um burburinho, me aproximei e perguntei a um escultor de areia o que estava acontecendo.
ele: "aaah meu amigo, é TODO dia isso aqui! Vocês turistas vêm pra cá achando que tá tudo muito seguro, e aí esses safados se aproveitam. O que aconteceu agora foi que duas meninas foram mergulhar e simplesmente deixaram as suas coisas na areia, sem que ninguém as vigiasse... passou um "cigano" e pegou a câmera delas... sorte que um vendedor de bebidas viu e o impediu". O ocorrido não me surpreendeu nem assustou em nada, isso ocorre toda hora na orla do Rio, mas o que me espantou foi a cara de pau e tranquilidade que o "cigano" foi embora após o ocorrido: ele saiu andando, assoviando praticamente... aquilo sim me deixou boquiaberto. E após isso, eu fiquei por alí batendo papo com o sulafricano escultor de areia, que tal qual os vendedores de bebidas, não tem o menor interesse na presença daqueles ladrões, eles precisam da frequência dos turistas para ganharem o seu ganha pão honestamente, seja com sua arte, seja com sua bebida. Papo vai, papo vem, de repente o sulafricano avistou a mais ou menos uma distância de 100m o MESMO ladrãozinho "cigano" furtando os pertences de outro turista que estava cochilando na areia. A minha revolta foi tão grande com aquela situação, com a parcimônia de todos em volta, me coloquei na situação daquele turista e me imaginei passando por todo o sofrimento de perder suas fotos, dinheiro e documentos, na hora o meu sangue ferveu como poucas vezes na vida e pensei: não não, hoje não! Lembrei do tempo em que morei no Texas e fazia atletismo, corria os 100m e 200m, visualizei uma pista em linha reta entre mim e o ladrão X (que caminhava com a bolsa escondida no casaco) e disparei! Mistura de Forrest Gump, Usain Bolt e Chapolin Colorado, corri com minha astúcia e minha camisa fosfluorescente, que mais parecia o uniforme da policia municipal de barcelona ou um marca texto mesmo, e alcancei o ladrão fioduaégua. Agarrei ele pelo colarinho ordenando, em português mesmo, que devolvesse a bolsa. Ele não esboçou reação alguma além de devolver a bolsa e, dessa vez, sair correndo, não sem antes tomar um chute na bunda. Em seguida, quando olhei pra areia o furtado veio na minha direção e quando chegou perto, se ajoelhou agradecendo o que tinha acabado de fazer por ele. Falava um espanhol "arrastado", que logo me fez desconfiar, e então perguntar: de onde você é? resposta: Argentina. Ter alguém de joelhos agradecendo aos seus pés já é bom, e sendo argentino - como diria Galvão Bueno - é melhor ainda!!!
Meus estimados amigos viajantes, não se deixem levar pelo glamour do sul francês, da elegância do norte da Itália, do pluralismo barceloneta, da antiguidade clássica grega. Todas essas áreas registram a atuação dos famosos "pick-pockets". Desde já, quero deixar claro, que isso não é uma campanha contra visitar estes locais, pelo contrário, recomendo TODOS eles, o que venho fazer aqui e abrir os seus olhos de que por mais desenvolvidas que essas cidades sejam, elas são cidades reais, onde houver oportunidade, haverá alguém querendo tirar partido dela. O que muda entre Rio, Paris, Milão, Barcelona é a frequência com que incidentes ocorrem, mas acreditem, em qualquer lugar eles podem ocorrer.
Portanto viaje sempre com alerta ligado, olho vivo, carteira no bolso da frente, câmera pendurada, bolsa de zíper (ou no bom português: fecho eclair), e sem ostentação de ouro e jóias... se caso queira dar um mergulho, peça pra alguém de confiança vigiar ou então terá de contar com a atuação de algum turista maluco se achando o paladino da justiça e cruzando o céu num tom amarelo fluorescente.








terça-feira, 23 de abril de 2013

À milanesa [parte 2]: O dejavu italiano que me fez entender um ditado chinês e uma filosofia grega.

2012 era o ano em que segundo os Maias o mundo acabaria, e antes disso acontecer, meu namoro acabou (mas não meu mundo), felizmente em tempo de planejar uma viagem ... e nesse plano minha prima, que também era Maia, mas bem mais otimista que os seus antepassados, topou na hora a minha sugestão. Estávamos caminhando na bela itacoa quando eu alertei-a para o fato dela estar madura o suficiente para conhecer o velho continente, e comigo ela pegaria já tudo mastigado. Levamos a ideia até meu tio, o seu paitrocinador, e comigo de lobbista e responsável turístico dela, ele aceitou sem muita resistência. O meu plano era passar uma semana em Ibiza e outra na Croácia, mas com a entrada da minha prima na viagem, o roteiro foi alterado... ela, muito empolgada, queria conhecer todas as cidades do continente em apenas duas semanas, e uma de suas prioridades seria Milano, a Meca da Moda. Eu não tinha muito porquê voltar lá pelo terceiro ano seguido, mas não consegui dizer não ao ver os olhinhos dela brilhando quando descrevi as famosas Via Montenapoleone, Via Sant'Andrea, Via Vittorio Emanuelle, etc (repletas de boutiques e lojas de luxo). Além disso, essa cidade tem uma localização muito estratégica, além de seus aeroportos contarem com voos indo e vindo de todos os cantos do mundo, portanto ela não só nos serviria de destino, como trampolim para outras cidades. Como foi uma viagem muito corrida, só deu pra fazer o basicão por lá, mas o suficiente para Karla matar seu desejo milanês. Além disso, Milão fez parte do estabelecimento do meu novo recorde de número de países num mesmo dia: França, Mônaco, Itália, Espanha em menos de 24h... [o anterior havia sido estabelecido em 2008: Bélgica, Holanda e Inglaterra].O mundo não acabou e veio o ano de 2013, e, acreditem se quiser, aqui estou mais um dia, sob o olhar mercenário de uma Via. Estava sistematicamente sendo compelido a voltar à Croácia pelos meus amigos de lá, que ano passado e retrasado foram ao Brasil me visitar, e como ela é minha maior paixão européia (com Zagreb foi à primeira vista mesmo) tava começando a ceder, sem muito esforço, é bem verdade.Ocorre que quando fui revelar este plano a minha vó, ela fez uma cara de gato do shrek e me pediu: "poooxa Leonardinho, me leva à Milão meu netinho". Sem chances de dizer "não" né?! Minha vó já conhece mais de 50 países, inclusive a Itália, mas lá ela nunca foi, e por mais "avó" que ela seja, ela é elegantérrima e cheia de disposição pra rodar por aí, e quis fazer um upgrade nos passeios diários pela Moreira César, era hora de experimentar a Montenapoleone. A influência cósmica que Milão exerce na minha vida turística é tão bizarra que no momento em que eu estava imprimindo as nossas passagens de avião, meu telefone tocou, era Karla, e antes que ela dissesse "alô" eu falei que meu e-ticket para europa estava sendo processado pela impressora naquele instante, e que ela ter me ligado era um bom sinal. A empolgação dela foi ao céu em 2 segundos (e ao inferno em 1)... meu tio tava ao seu lado e deu a seguinte ordem: "manda Leo comprar a minha passagem e a da sua mãe, você fica no Brasil porque já viajou demais, bem mais que eu". O principal motivo seria a comemoração de 25 anos de casado deles dois, e eu seria o cicerone e candelabro de prata da ocasião.Já em solo milanês, as experiências foram se repetindo como um dejavu, e se renovando com novas companhias... como meu tio profetizou ao sairmos do hotel pela primeira vez: "Aqui é o seguinte, fecha o coração e abre o bolso!", e que bom que ele tinha essa consciência, porque na sua primeira passagem por aqui ele "teve" que levar presentes para minhas primas e minha tia, no ano seguinte ele mandou minha prima pra cá, o que representou um gasto igual ou maior, e dessa vez, coitado, ele não só veio com uma longa lista de presentes pras minhas primas, como trouxe minha tia, a grã-master em compras. Confesso que foi uma experiência inédita na minha vida (e espero que singular, porque se minha esposa vier a gastar assim, coitado de mim!), de qualquer maneira, foi bom pra aprender dançar a "tarantela milane$a". O $i$tema aqui é brutal, e exerce em você uma força oculta, nos faz gastar um dinheiro que não temos, para comprar coisas que não precisamos. Portanto cuidado, se realmente não puder e/ou não quiser gastar, não pratique o "window shopping", porém se quiser, vá de coração fechado e bolso aberto e aproveite, pois Milão tem compras para todos os gostos e orçamentos, podem apostar.Ter vindo a Milão me deu ainda a oportunidade de voltar, numa agradável viagem de trem, pela terceira vez à querida Firenze (Florença), cidade na qual eu já passei uma curta temporada estudando, e vivi um cotidiano muitíssimo bucólico e com gosto de um passado mais tranquilo de se viver.Existe um ditado chinês que diz o seguinte: "jamais volte a um lugar no qual você tenha sido feliz". Já Heráclito, filósofo pré-socrático, trouxe à tona a questão: "ningúem pode tomar banho duas vezes nas águas do mesmo rio", pois depois do primeiro mergulho, este alguém já não é a mesma pessoa, tal qual o rio já não é o mesmo rio... e cruzando estes dois pensamentos, chego a conclusão de que de fato não devemos querer voltar a um lugar esperando viver as mesmas emoções e alegrias que tivemos na visita anterior. Podemos voltar sim, mas com a ciência de que já não somos as mesmas pessoas, nem o lugar é o mesmo lugar, e principalmente, o tempo já não é o mais o mesmo. É sempre bom reviver os bons momentos passados, mas melhor ainda é ir em frente e criar novos tão bons quanto, porém cada um à sua maneira.Para isso, estou aberto a convites para aqui voltar pela quinta vez, e por que não, no quinto ano consecutivo... 2014 já já vai dobrar a esquina. Arrivederci Milano!!!Dicas:Hotel Cavour (Via Fatebenefratelli)Restaurante Grani & BraciLojas: Alcott, Bershka e La Rinascente(departamento)Turismo: Duomo, Castelo Sforzesco, Lago di Como, Museu Leonardo da Vinci, Teatro Scala













sábado, 20 de abril de 2013

À milanesa [parte 1]: No meio do caminho havia uma cidade, havia uma cidade no meio do caminho.

Sabe aquela pessoa que nunca encheu seus olhos, mas sempre cruzou o seu caminho, e pouco a pouco foi te cativando, ao passo que demonstrava sua beleza interna, a externa foi melhorando, até que finalmente você dá uma chance a ela e então vocês estabelecem um "lance" e aí ela nunca mais sai da sua vida? Pois então, das cidades do mundo, a cidade de Milão é essa pessoa pra mim.
Nunca tinha pensado nem em passar por perto dela, simplesmente não me apetecia visitá-la, até que em 2010 havia uma Milão no meio do caminho, no meio do caminho havia uma Milão...
Estava no sul da frança, prestes a terminar minhas aulas de francês e precisava decidir por onde começaria meu "grand euro tour". Meu irmão acabara de chegar a Nice para passar uns dias mais tranquilos depois de uma temporada ibizenca, e por alguns dias também viajaria comigo, logo teria voz na decisão do destino. Além dele, quem estava programando passar o final de semana conosco era a Taty (grande amiga feita no curso, hoje também blogueira reconhecidíssima no cenário da moda de Campinas e SP), e foi então que ela veio com a proposta: "pooo meu, por que a gente não vai pra Milano? Lá é a meca da moda!!" ... Eu levei a proposta para o meu irmão que contrapropôs irmos para a Croácia, considerada a Ibiza dos Balcãs (parece que ele já estava com saudade da vida agitada da ilha espanhola). Eu aceitei as duas propostas e tratei de uni-las: havia um trem que fazia Veneza - Zagreb (com algumas poucas paradas, porém muitas horas de viagem), e no meio do caminho Nice - Veneza, estava justamente Milão... Era o destino e não tinha como fugir dele.
Eu e meu irmão chegamos na cidade numa noite de sexta-feira chuvosa, depois de um desencontro dramaturgo na estação nice-ville e um reencontro cinematográfico na estação de ventimiglia (um post futuro contará com detalhes este que foi um dos episódios mais inacreditáveis e emocionantes da história da nossa irmandade). Parecia que a cidade não estava nos recebendo da melhor maneira possível. Taty chegou na manhã seguinte para darmos início ao nosso final de semana turístico. Tudo ocorria dentro dos conformes até que avistamos um outdoor anunciando um show do Mark Knopfler (consagrado guitarrista do Dire Straits) e nos animamos para ir. A questão é que não estava claro se seria mesmo naquela noite, de todo modo achamos que seria válido a tentativa. E foi aí que mais uma vez ficou provado que quem ousa vence, de uma maneira ou de outra. Aquela noite prometia ser de temporal, mas ainda assim resolvemos sair, sem guarda-chuva, sem lenço, mas com documento, para achar o bendito show. Seria em algum lugar nos arredores do Castelo de Sforzesco, e quando adentramos os portões do próprio avistamos um tenda lá no final e subitamente um pé d'água desabou na nossa cabeça. Corremos, corremos muito, não sei se foi na emoção de ter encontrado o local do show ou fugindo da chuva. O importante é que quando chegamos perto da tenda, percebemos não ser um show de rock, mas continuamos por conta do nosso segundo grande motivo. Quando a adentramos, desabamos em risos e gargalhadas: se tratava de um baile da terceira (talvez quarta) idade, de dimensões colossais. Acho que toda a população idosa de Milão estava debaixo daquela mesma lona com os mesmos propósitos de dançar, se divertir, e ser feliz, e quando os propósitos são esses a idade pouco importa, assim sendo, nem pensamos na hipótese de sair de lá. Afinal, se ali estávamos rindo e gargalhando, por que haveríamos de lá sair?! Em minutos, os três já estavam devidamente acompanhados, dançando, bebendo, tirando fotos e filmando aquele momento singular e inédito. O ponto alto foi a banda tocar ao vivo "Panamericano" (we speak no americano), maior sucesso do ano de 2010, e que, pra quem não sabe, é inspirada numa canção italiana consagrada por Renato Carosone na década de 50, chamada "tu vuò fa l'americano".
Naquele mesmo ano de 2010, semanas depois, eu retornaria a Milão, após ter visitado Croácia e Grécia, quando já estava de volta pro continente (geografica e propriamente dizendo) e rumava pro centro-norte europeu, lá estava aquela cidade manhosa no meu caminho. Dessa vez fiquei hospedado na casa de Alice, namorada italiana de um grande amigo brasileiro, que mora nas cercanias de Monza, famosa pelo seu GP de F1. Inclusive foi lá que ao chegar numa padaria típica, um senhorzinho, ao perceber que eu era brasileiro, fechou uma porta para me mostrar, pendurado atrás dela, um pôster do Ayrton Senna do Brasil! Ele ainda me disse com a voz embargada: "depois que este aqui morreu, a F1 acabou... Ele foi o maior de todos", foi então que uma lágrima minha escorreu de tanto orgulho por ser brasileiro e também por lembrar do choro copioso da minha mãe naquela triste manhã de maio de 1994. O importante foi que passar aqueles dois dias com a Alice e suas amigas, me deu uma perspectiva mais local e real da vida milanesa (o que me agradou bem mais)
Em setembro de 2011, eu fui para Florença estudar italiano, e nos finais de semana eu viajava para algum local com voo low-cost. Pois bem, estava em Bordeaux resolvendo umas pendências com uma francesa iniciadas na ilha de Ios (Grécia) no ano anterior, quando meu skype tocou: era minha prima dizendo que meu tio estava em Milão para visitar uma feira de máquinas e queria que eu fosse pra lá encontrá-lo. Em se tratando desse meu tio, missão dada é missão cumprida, e na hora eu tratei de organizar a logística para lá chegar, e ela foi muito simples (para não disser odisséia): saí de Bordeaux um pouco depois das 11 e só cheguei ao encontro do meu tio às 22... Andei na chuva, peguei ônibus em pé, voei para Bologna, peguei outro ônibus, para depois pegar um trem, para só então pegar o metrô e finalmente caminhar um pouco mais, debaixo de chuva, até o hotel. Quando atravessei o lobby do hotel e ele me avistou do restaurante, sorriu um sorriso tão sincero, que no curto espaço do instante de 1 segundo ele fez valer todo meu esforço daquela eternidade de 11 horas de baldeação. Ele estava praticamente sozinho, não tinha experiência com viagens internacionais e não falava outra língua senão o português. Fui até ele para garantir que sua viagem não fosse somente de negócios, fosse também de lazer, pois ele muito merece se divertir vide o tanto que trabalha. Por mais que tenha sido por menos de 48h, o tempo que ficamos juntos foi de muita alegria e gargalhada, e sei que a minha presença proporcionou a ele momentos que sem mim ele jamais sonharia em fazer... Uma justa retribuição por tudo que ele já fez por mim na vida.
Já era hora de seguir meu destino até Florença onde deveria voltar a estudar, afinal de contas, Milão era só uma cidade no meio do caminho, o caminho que no seu meio tinha uma cidade.

[CONTINUA...]











quinta-feira, 18 de abril de 2013

1970, 1994, 2010... Tri do Brasil pra cima da Itália. Em 2013 a rivalidade se acirra.

Como planejado, nosso último dia em Roma foi dedicado aos meus dois monumentos favoritos da Itália e a discutir com taxistas. Ao pedir empolgadamente que o motorista nos levasse até Vittorio Emanuelle II, o monumento mais bonito da Europa, na minha opinião, fui contestado pelo próprio:
Ele: "nós italianos chamamos este monumento de "grande máquina de escrever", ele é muito feio!"... Uma vez que ele contestou a minha opinião, me vi no direito de treplicar: Eu: como assim "feio"??? A beleza e magnitude deste monumento está acima de qualquer opinião, não é algo que se discute".
Ele: "bruto! (feio)".
Minha vó tentou contemporizar dizendo que foi força de expressão dele, mas eu disse que a tradução ao pé da letra era "feio", sem mais.
Eu: "me parece que os italianos que construíram essa cidade davam muito mais valor a ela do que os romanos de hoje".
Ele: "é bonito, mas..."
O "é bonito" dele já me foi suficiente, e minha primeira discussão em italiano repleta de gestos foi bem sucedida, apesar da taquicardia provocada na minha vó.
De lá seguimos para o Anfiteatro Flavius, mais conhecido como Coliseu, onde fizemos uma visita audioguiada muito proveitosa. Essa é a dica em relação a este concorrido e lotado ponto turístico: por um adicional de 5€ você fura a fila honestamente e recebe um aparelho tipo um telefone sem fio que te da informações a respeito do local que você estiver situado dentro do coliseu (são 6 pontos chaves no total, além de informações históricas e de engenharia).
Todavia, para mim o ponto alto se deu ao sair de lá, foi quando eu pude voltar no tempo... Ao entrar no taxi, perguntei ao taxista se ele conhecia um campinho de futebol ali perto, ele disse que sim e que há muito tempo não passava por ali, e que se eu quisesse, poderiamos passar por lá, claro que aceitei e já digo o porquê.
Se trata do Campo di Calcio Colle Oppio, um campinho de terra batida para jogar futebol que fica praticamente colado no Coliseu, onde eu tive oportunidade de defender nossa pátria e fazer história.
Se te perguntarem entre quais seleções, onde e quando se deu a final da copa do mundo de 2010 certamente te responderão: Espanha x Holanda, Johannesburgo e julho de 2010. Mas essa resposta pode ser válida pro mundo todo, menos pra mim... Pois pra mim, ela foi entre Brasil e Itália, na campinho de Colle Oppio e ocorreu em agosto daquele mesmo ano. E no time do Brasil eu fui técnico, camisa 10, faixa no braço, chefe de torcida e presidente da república... Eu fui o BRASIL!!!
Melhor explicando: estava viajando Europa a dentro de trem, e em Roma estava sozinho. Após terminar meu grande tour romano pelo coliseu, me encaminhava para o albergue para tomar um banho e descansar nas minhas últimas horas na capital romana antes de pegar o trem pra Florença. Ao passar por ali e perceber uma movimentação de alguns jovens prestes a bater uma bola, não resisti e me ofereci pra jogar com eles, uns torceram o nariz, mas outros disseram "sim", principalmente ao dizer que era brasileiro, acho que se sentiram desafiados (e de fato estavam sendo).
Em suma: apito do juiz (um chute pro alto que eu mesmo dei) e começo de pelada! Meus amigos sabem que não sou um jogador extremamente habilidoso, mas correria e vigor físico é comigo, além de às vezes ter uns lampejos de craque, tipo fio maravilha, e marcar uns golaços. Definitivamente aquele era um desses dias, e minha atuação foi marcante, mesmo num jogo disputado e inflamado após a chegada de um ônibus repleto de loiras suecas que pararam na grade pra apreciar aquela exibição de futebol ítalo-brasileiro. O jogo terminou 3 x 2 para o Brasil, com 3 gols meus, e direito a coraçãozinho pras suecas e música no Fantástico (mundo da minha imaginação). Me perdoem o exagero meus amigos, mas aquilo pra mim foi sim uma final de copa do mundo, que eu orgulhosamente trouxe pro Brasil tal qual Pelé em 70 e Romário em 94. Ter voltado àquele mesmo campinho me trouxe uma nostalgia e uma alegria sem tamanho, me fez crer que aqueles momentos vividos há 3 anos por mais singelos, porém memoráveis e felizes que tenham sido, foram verdade e enquanto permanecerem vivos em minha memória serão tão atuais quanto o jornal de amanhã.
Saindo de lá, com os olhos marejados, entrei em mais uma disputa/discussão com taxistas... Dessa vez o tema foi cerveja, um assunto que domino pouco ou quase nada, mas quando eu tiver fortes argumentos, atravesse a rua. A questão é que meu tio está decepcionadíssimo com a temperatura da cerveja italiana, e me pediu que perguntasse a ele onde poderíamos beber uma cerveja GELADA. Em vez dele me ajudar, ele me contestou: "por que? Não acha gelada a cerveja que servimos aqui?"
Eu: "não!"
Ele: "4° não é gelado pra você? Você acha que tá quente por causa da diferença da temperatura ambiente e da cerveja"
Eu: "meu amigo, com todo respeito, no Brasil a temperatura passa dos 40° e lá se bebe cerveja a até -4°!!!"
Ele: "hahaha... A 0° a cerveja congela..."
Eu: "na na não, 0º é o ponto de solidificação da água, a da cerveja é outro."
Ele: "mas aí vai te dar indigestão..."
Nesse momento eu gargalhei e a discussão se encerrou depois de muito grito, ironia e principalmente gesto. Quando minha vó já tava quase chorando por achar que eu e o motorista estávamos prestes a nos estapear, nosso destino final chegou e eu e ele nos abraçamos e rimos daquilo, afinal de contas italiano fala (discute) assim mesmo: cheio de grito, gesto, e "ma che cazzo!", eu só dancei conforme a musica.
Um dia mais italiano que aquele seria impossível, e as boas memórias que ele me trouxe me deixaram com o sorriso frouxo pelo resto da tarde.

A taça do mundo é nossa, seja da
Copa, seja de cerveja, e com brasileiro não há quem possa!!!

Fotos de hoje e 2010:

















quarta-feira, 17 de abril de 2013

Comer, rezar e comer mais um pouco porque amar não tá fácil.

Desde que cheguei a Roma, há dois dias, me dediquei a duas coisas: comer e rezar. O incrível disso é que não sou comilão, tampouco tão religioso assim, mas as cidades têm essa capacidade de te mudar um pouco, ainda que momentaneamente.
Nosso avião chegou às 6:40am, e poucas horas depois já estávamos devidamente bem instalados no nosso hotel. Antes que o cansaço batesse, fomos a rua aproveitar o dia que se iniciava, e para nós ele se iniciou pelo menor Estado do mundo, O Vaticano. Eu que sou o guia do nosso pequeno grupo familiar fiz essa escolha seguindo a máxima americana de "first things first", e como a Piazza San Pietro ta mais na moda do que o Coliseu, pra lá fomos primeiro. E em relação a ela, vai a minha dica ambígua: caso você visite o vaticano pela manhã, contrate um guia que o abordará insistentemente assim que você saltar do taxi. Pelo seu serviço você pagará em torno de 20€ e com isso, além das boas explicações, você terá a regalia de não enfrentar as filas da basílica de San Pietro e da Capela Sistina, isso te poupará tempo e queimaduras solares. Agora, caso você vá mais a tarde e tenha mais tempo do que dinheiro, ignore os guias dizendo que "já tem reserva" e vá na fé (literalmente) conhecer a magnitude da San Pietro, que tem como ponto alto a Pietà (que só falta falar ou parlare como Michelangelo orgulhosamente a ordenou que fizesse assim que terminou sua obra de arte) e um altar de bronze de dimensões colossais. Depois vá ao museu do Vaticano que o lidará por exuberantes salas de arte até seu ponto alto: a Capela Sistina.
Feito esse mini retiro religioso, faça como eu e minha família fizemos: parta para o pecado! Pecado da gula!!! Procure uma das milhares de cantinas italianas e faça uma orgia gastronômica, abra o menu e peça tudo que te apetecer, com pelo menos um antipasti, um primo piati, um secondo piati, a sobremesa você pode abrir mão de comer no restaurante para se deliciar num gelato em alguma sorveteria qualquer. Obrigue cada pessoa sentada a mesa a fazer o mesmo. Quando os pratos começarem a chegar, todos necessariamente têm que provar uma garfada do prato de todo mundo. E isso regado a vinho!
[pausa para respirar e sentir o frenesi gustativo que sua língua deseja nesse momento]
Depois role até o hotel, cochile e ao acordar, já será hora de repetir a dose no jantar. Só não vale repetir os pratos nem o restaurante, tem que experimentar algo novo.
Na manhã seguinte você tem que voltar ao Vaticano e pedir a Deus que não te castigue por tamanha gula. Se for uma quarta-feira, melhor pra você, assim como foi pra mim, pois você receberá a benção, ao vivo e a cores, no seu idioma, do papa pop Francisco. Brincadeiras a parte, é indescritível a sensação de desembarcar do taxi diante da San Pietro numa manhã de quarta-feira, independente do nível do sua devoção. Primeiramente nenhum guia te abordará, o que já te trará uma grande paz interior, após isso, você perceberá uma imensa massa de gente, bandeiras flamulando como se estivessem numa copa do mundo, telões exibindo o papa, bispos e sacerdotes, e se quando a voz do mais novo bom velhinho chegar aos seus ouvidos não tocar seu coração e seus olhos marejarem, você tá meio morto ou bem encrencado quando chegar ao purgatório. Mais uma vez deixando o julgamento de lado (ou pra depois pro próprio bom Deus fazer), é divina aquela sensação de estar no meio de uma massa de positividade, amor e fé. Minha tia se debulhou em lágrimas, o que me fez ter ainda mais certeza de ter escolhido o programa certo para a manhã.
A tarde, adivinhem, voltamos para o pecado da gula, depois o da luxúria, afinal estando com duas mulheres numa viagem, não é possível mantê-las distante das vitrines por mais de 24h., eu e meu tio já estávamos quase orquestrando um milagre, e se o tivesse feito, ia aproveitar minha proximidade ao Vaticano e iria lá requerer nossa beatificação.
À noite mais uma orgia gastronômica e amanhã Deus que nos perdoem, mas vamos ao Coliseu, pois vir a Roma e não visitá-lo é quase tão esdruchulo quanto vir a Roma e não ver o papa.

Obs: amar aqui só se for o amor a Deus ou o amor que uma criança sente por um pedaço de bolo. "Julia Roberts" é coisa de cinema.

Sugestões:
Hotel Borgognoni (fontana di trevi)
Restaurante Il Piccolo Bucco
Restaurante Naná
Restaurante Terra di Siena
Gelateria San Crispino















terça-feira, 16 de abril de 2013

Quem converte não se diverte

Ter uma moeda fraca em relação às principais do restante do mundo cria uma inconveniente barreira para os brasileiros viajarem. Muitos deixam de conhecer destinos internacionais não por conta do valor da passagem aérea e sim pelo gasto que sabem que terão fora do Brasil.
De fato dói bastante gastar em dólar, euro, libra nem se fale! Quando o que é comprado continua valendo a pena mesmo depois de se calcular a conversão, ótimo! Mas o problema é quando o viajante começa a se viciar em converter tudo que se compra ou se gasta, sobretudo os não-duráveis (alimentos e bebidas) e entretenimento.
Minha dica é: não entre nessa nóia!!! Seja pouco ou seja muito a quantia que você leva no bolso, no instante em que sair do Brasil, pare de pensar em "real", pense em "unidade de dinheiro". Por exemplo: em Roma uma pizza individual custa na faixa de 10€, se fizer a conversão, chegará próximo aos R$30, o que é caro pruma pizza que serve até duas pessoas sem muita fome. Portanto nessa hora pense: tenho X no bolso, após comer essa deliciosa pizza tipicamente italiana em plena Roma terei X-10. Além de se tornar uma matemática financeira bem mais simples, você passa a agregar valor ao que se está comprando, e não se tratará somente de uma alimentação, e sim um momento em que você cunha em sua memória. No Brasil você pode até comer uma pizza maracanã por menos de 10€, mas será que ela te fará tão feliz e será tão memorável quanto a pizza italiana em Roma? Perceba que você paga não somente pela farinha de trigo, queijo e molho de tomate, você paga pela toalha quadriculada, pela genuinidade dos produtos, pelo burburinho italiano ao seu redor, pelo "grazie mille" do garçom etc.
Sem mencionar os gastos com entretenimento (que pra mim são os mais importantes em uma viagem)... Certa vez meu irmão me ensinou um importantíssima lição: estávamos em Ibiza e tínhamos nos deslocado pra muito longe pra ir a uma boate que pensávamos custar 30€, mas chegando lá era 60! Eu olhei pra cara dele e perguntei "e aí, o que vamos fazer?" Ele prontamente respondeu "vamos entrar ué! Não viemos até aqui pra perguntar quanto é a entrada e voltar pra casa, vim pra zoar tudo e é isso que eu vou fazer!" Obviamente estávamos numa situação em que podíamos nos permitir o capricho de gastar um pouco mais, mas o X da questão e a conclusão que eu tirei daquele dia foi: economize sempre que você puder, pois quando você não puder, você não vai poder. Parece um raciocínio idiota, mas que faz todo sentido, e se aplica muito bem em viagens. Num dia você vai fazer um programa irado de graça, no outro infelizmente você terá que desembolsar algum pra literalmente entrar na dança.
Gostaria de deixar claro que minha dica não é um incentivo ao gasto exorbitante, inclusive eu sou um viajante bem econômico (já dormi em puff de piscina, sofá, chão e rua... Já comi kebab/gyros pita por duas semanas, o mesmo sanduíche por 48h e até esmola de banana na feira já aceitei), o meu post é um alerta para que vocês, estimados amigos viajantes, não se privem de comidas, bebidas, festas e momentos inesquecíveis por conta de uma mera questão cambial. Faça uma estimativa de quanto você poderá gastar por dia e seja feliz dentro do seu orçamento, pois acreditem, ser feliz depende de uma coisinha de nada e pode custar menos caro do que se imagina... Essa lei é internacional e vale até mesmo para os lugares onde Deus é uma nota de 100! Palavras de quem já foi feliz por muito pouco ou quase nada tenha sido em Monte-Carlo, New York ou Dubai.






Quem tem boca "vai a" Roma

Estimados viajantes, estudem outras línguas!!! Quem tem boca e boa comunicação chega a qualquer lugar e consegue certas coisas que as vezes nem mesmo o dinheiro poderia comprar. Lembrem-se que viajar é também uma arte/habilidade e não somente um direito adquirido, logo pode e deve ser aprimorado.
Definitivamente falar um outro idioma é um dos pilares do sucesso de uma viagem internacional, sendo o inglês o "principal" deles, não por isso 100% suficiente. Certos lugares têm sua identidade cultural muito forte e meio que recusam qualquer tipo de estrangeirismo, portanto busquem sempre aprender mais e mais... Ao falar as palavras básicas ("mágicas") já sentirá a diferença.
Falar 5 idiomas já me proporcionou muitas regalias, me levou a caminhos e locais alternativos e a conhecer pessoas de uma forma mais profunda e com elas estreitar e manter os laços de amizade.
Hoje em poucas horas de voo já senti isso mais uma vez. Primeiro, pedi ao copiloto para visitar a cabine para fazer umas fotos, e fiz isso no italiano básico/intermediário que falo. Tudo bem que usei como argumento ser o meu aniversário, mas tenho certeza que ter falado com ele no seu idioma nato já o fez receber o pedido de uma forma mais aberta. Conclusão: fui a cabine, algo que nem é permitido, principalmente pós 11 de setembro, e por lá fiquei por alguns minutos não só fazendo fotos, mas também batendo papo com piloto e copiloto sobre nossas respectivas cidades (rio e roma).
Não satisfeito, na volta parei pra conversar com minha vó e acabei ajudando a uma aeromoça com uma mala pesada e ela (que já tinha me visto falando italiano com o piloto e português com minha vó) agradeceu em francês "merci". Prontamente eu disse "de rien", para sua surpresa e arregalar de olhos...
Ela: "quantas línguas você fala???"
Eu: "5"
Ela: "bravíííssimo!!! Meus parabéns"
Eu: "então o parabéns é duplo, pois além de falar cinco línguas, hoje é meu aniversário"...
Foi então que ela fez com que todas as aeromoças do avião me desejassem "tanti auguri" e dali em diante as tais regalias se fizeram presentes, e as guloseimas e bebidas da 1ª classe apareciam espontaneamente na minha mesa.
Quem tem boca vaia, vai a, come e bebe bem em Roma!
Falar outros idimoas é a chave mestra das portas do mundo, façam bom uso dela!!!
Obs: e esta chave pode ser usada sem nem mesmo sair do seu país, ao (bem) receber os estrangeiros, mas sobre isso eu falo melhor num próximo post.

Histórico e sugestão de cursos:
Inglês: cultura inglesa e burkburnett highschool (intercâmbio Texas, EUA)
Espanhol: yspanus
Italiano: yspanus e instituto michelangelo (Florença, Itália)
Francês: prolem-uff e france langue (Nice, França)

Para intercâmbios em geral: Bex Tur e World Study são de excelente atendimento e experiência no mercado. Indo lá, podem falar no meu nome! Procurem por João ou Síria (Bex) e Érika ou Tetê (WS).




segunda-feira, 15 de abril de 2013

Para Roma, com amor, do titio

O primeiro post do blog e da viagem da vez vai em homenagem ao meu tio que no dia do meu aniversário (hoje) me presenteou com um upgrade e agora em vez da turbina, voarei na confort plus, o que já tá de ótimo tamanho... Serão 12 horas de um sono mais revigorante e quando chegar a Itália estarei mais do que pronto para ganhar as ruas de Roma. Valeu tio, quem tem padrinho não morre pagão!!!

Sábio viajante