segunda-feira, 29 de abril de 2013

Upgrego! Presente de grego é cavalo de tróia (ou burro de Santorini)

Certa vez, quanto voltávamos de Novalja para Rijeka (Croácia), meu irmão me atinou para algo que eu nunca tinha parado para perceber, apesar de seu imenso valor: como é bom chegar em uma cidade em que já conhecemos! Ter estado por uma única vez, por mais rápido que tenha sido, em qualquer cidade que seja, muda completamente a concepção daquela nova chegada. O stress é menor, a confiança é maior, e o desconhecido que muitas vezes além de empolgar também assusta, dá lugar à firmeza de pisar num terreno já mapeado. O simples e mínimo senso de direção de, por exemplo, por qual saída de uma estação de trem sair pode determinar o sucesso da sua chegada... Uma saída pode te botar de cara pro seu hotel, enquanto a outra pode te colocar a girar como cachorro mordendo o próprio rabo ao redor do quarteirão.
Mas o que me faz trazer essa questão à tona é minha relação de idas e vindas, lidas e vidas com a Grécia.
Atenas e suas ilhas satélites, têm comigo uma relação intensa e empática, que se estreita ano após ano... Minha história grega, bem mais moderna que seus monumentos e deuses, começou atravancada, uma vez que por 5 vezes tentei, sem sucesso, comprar uma passagem para lá (problemas com a internet/cartão). Como já mencionei anteriormente aqui no blog, estava em Nice tentando resolver meu destino, ingenuamente, sem ainda saber que o destino se decide por si só. Após a 5ª tentativa, desisti; soube esperar o meu momento. No dia seguinte eu recebi uma mensagem em inglês, no meu número francês: seu irmão está no trem paris - nice, e chegará aí às 22:30. Ele não tinha como te avisar e pediu para que eu te enviasse esse sms. E assim fui eu, seguindo o meu destino, buscar meu amado irmão no Gare de Nice Ville. A sensação de ver aquele trem chegar com seus dez minutos de atraso, uma multidão tal qual uma boiada sair de suas portas e por ultimo, um viajante cansado carregando um mochião nas costas é de alegria indescritível. Corri com a vista embaçada e abracei meu irmão, carreguei sua bagagem e o levei pra casa, onde o dei comida e um travesseiro pra dormir. Dias depois decidimos ir a Croácia (a Grécia não o apetecia). Já em Zagreb, amada Zagreb, caminhando pela rua, despretensiosamente, passei por um escritório da Croatian Airlines e resolvi entrar e pesquisar por passagens... Resumo da ópera: encontrei uma super promoção de ida e volta para Atenas, por menos de 100€, mesmo eu não precisando da passagem de volta, valeria a pena. E como a ticketagem aérea não tem bom senso, uma passagem ida e volta sairia mais barata que somente de ida. O gentil vendedor me informou que se eu enviasse um email comunicando minha abstinência daquele voo de volta, receberia as taxas aeroportuárias de embarque reembolsadas no meu cartão (acreditem, isso funcionou). Era uma amada cidade me jogando nos braços de outra a conquistar. E assim meu destino se fez traçado, no seu momento certo.
Meu primeiro relacionamento com Atenas foi de tapas e beijos... Vi a manjedoura da civilização moderna em Acrópolis, mas vi também a decadência de uma civilização contemporânea afetada por suas crises e desemprego, onde muitos recorrem a heroína, que apesar do nome, é vilã. Passei por muitos entorpecidos no meio das sujas ruas, e num crítico momento, vi a ameaça de perto, multiplicada por olhos já sem brilho, quando me perdi entre dois antigos prédios desativados (biblioteca e museus nacionais) que abriram mão da cultura e deram lugar ao oco das drogas. Se tratava da heroinolândia, e quando percebi isso, já estava no meio do seu caminho, e tinha duas opções: ou seguia em frente com cara, coragem e fé, ou voltava, demonstrando medo, insegurança e fraqueza. Segui em frente, até porque meio caminho pra trás e meio caminho pra frente dão no mesmo, então a diante segui e de lá tomei meu rumo às ilhas onde os deuses me tratariam com mais receptividade.
Santorini, Ios e Mykonos, foram as escolhidas (ou que me escolheram, vai saber...), com elegância, jovialidade e hedonismo, respectivamente. Esta última (juntamente com Atenas e a sua "segunda chance" que eu fui forçado a dar) eu tornaria a visitar em 2012, atendendo os pedidos da minha prima. Essas histórias são muitas e dariam mais que um post, dariam um capítulo (de um livro já em produção, que este blog me incentivará a logo terminar).
De lá pra cá, posso afirmar que Mykonos segue bela, mas na segunda vez não repetimos aquela paixão do verão retrasado... Deve ter sido ciúmes por eu estar acompanhado de uma outra mulher (mesmo que com ela eu nada tenha). Atenas resolveu me abraçar de fato, não vi mais aquele terrível clima de drogas, a iminência de protestos devido à profunda crise econômica passaram em branco e sem querer encontrei o restaurante com a vista mais bonita do mundo (acropolis) onde ao tentar fazer uma reserva, vestindo chinelos e segurando um saco plástico nas mãos fui praticamente enxotado de lá, mas ao retornar na mesma noite de calça e camisa social, com minha prima elegantérrima e linda, fui tratado como deus (grego).
Agora Santorini... Eu tenho todas e nenhuma palavra(s) pra descrever. Um lugar desse tinha mesmo que ter "santo" no nome, "rini" deve ter alguma ligação com beleza indescritível. Em 2010 o conheci da melhor maneira possível que meu baixo orçamento permitia, e foi muito válida... Mas agora em 2013, meus caros amigos, eu to nadando braçadas largas! Como meu pai ama dizer: vim na aba! Totalmente. Vim na função de guia, tradutor, gourmet, animador, carregador de mala etc, tudo isso com o maior e imenso prazer, pois estou fazendo isso não pela parte que me é interessante (a aba), e sim para proporcionar a duas pessoas que amo incondicionalmente o melhor aniversário de 25 anos de casados que eles poderiam ter. Como eles mesmos têm repetido ao longo dessa viagem, "você nos trouxe a lugares que jamais imaginamos estar, de uma forma muito especial, e que ninguém mais nesse mundo seria capaz de fazer por nós". Além de encher meus olhos de lágrimas toda vez que eu ouço isso, eu sorrio, e olho pra trás cheio de orgulho de mim mesmo, não pelo o que sou (até porque não sou nada demais, apenas um bandoleiro viajante), nem mesmo pelo o que estou fazendo agora, mas sim pelo o que fui e fiz no passado. Passando pela frente do singelo albergue no qual me instalei em 2010, quando tinha apenas 23 anos, viajava sozinho, com uma pequena mala com pouca roupa, mas com muita de vontade viver e ver o mundo, o apontei para o meu tio, que disse: "que guinada de vida que você deu hein moleque?! (Se referindo ao hotel no qual hoje estamos)"
Eu: "é mesmo tio, foi um belo upgrade... Foi um upgrego!"
Até que então minha tia deu um toque de sábia sutileza maternal e feminina ao nosso diálogo: "ééé, mas foi graças à experiência de ter ficado nesse singelo albergue e ter desfrutado da forma pouco luxuosa que você desfrutou, é que hoje estamos aqui, com você conhecendo cada viela dessa ilha e dirigindo como se estivesse em Niterói". Sem a pessoa que eu fui em 2010, eles não estariam aqui, talvez nem eu mesmo, hoje. Eu poderia ter optado por fazer uma viagem mais curta, confortável e luxuosa, "soquenão", pra crescer tem que sair zona de conforto, optei por prolongar ao máximo minha expedição, e conhecer da forma mais real e profunda possível a maior metragem quadrada do velho continente. Hoje ao me ver pegando sol numa jacuzzi no alto de Fira, muitos queriam estar no meu lugar, mas quantos aceitariam ficar num quarto com mais 9 desconhecidos, e comendo gyros pita por dias só pra economizar mais? No meu caso, uma coisa levou a outra, e eu fui muito feliz nas duas.
O símbolo das ilhas gregas é um moinho de vento, e a vida é sim um moinho, como cartola e cazuza imortalizaram. Há 3 anos eu subi um sem-número de degraus só pra economizar 5€ de burro-taxi e enfim chegar no topo de Fira; hoje eu desci (pois no topo já estou hospedado) de bondinho, só pra depois subir de burro-taxi. 50 cent cantou que "the top feels so much better than the bottom, so much better", e é bem verdade, o segredo da felicidade não é sorrir somente quando se está no topo, essa é a parte fácil, e sim saber sorrir quando se está lá embaixo, pois é justamente essa alegria que pode te levar até la em cima.
Além de lições filosóficas reflexivas que agora divido com vocês, Santorini 2013 está me abraçando, beijando e dizendo que me ama, até porque quem sabe sorrir lá embaixo, aqui em cima gargalha e em apenas 2 dias vivi e fiz viver momentos de inesquecível alegria para mim e para os meus dois pombinhos de prata. São muitos, só que o post já prolongado que vos escrevo me permitirá resumir apenas o que nos aconteceu por último: tenham a certeza de que o dia em que vocês puderem passar a tarde num veleiro, costeando Santorini, comendo uma comida típica, deliciosa e saudável, ouvindo música no volume máximo, enquanto aguardam o por do sol mais bonito do mundo, golfinhos começarem a nadar e pular junto ao seu barco, e quando finalmente o astro rei tocar a água, vocês estourarem uma garrafa de champagne para abrir os caminhos e brindar o dia de hoje pois o amanhã só pertence a Deus (ou aos deuses), acreditem, meu amigos, vocês hão de querer casar com essa ilha, tal qual eu quero e tais quais meus tios renovaram seus votos após 25 anos de casados e fizeram juras de amor eterno... Tudo isso eu vivi, e vi, com esses olhos que mais uma vez se encheram d'água, mas é claro, sem apagar o sorriso de quem a sorrir pretende levar a vida.












3 comentários:

  1. A coisa mais fácil de dizer: Seu livro será um sucesso. Obrigado por me incluir neste capítulo. kkkkkkk

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  2. Os meus olhos estão tb cachoeirando, de orgulho, alegria, felicidade, por td essa benção. No albergue ou no Hotel upgrego, com certeza a estrela mais brilhante é vc. mô lindio DINGUE.
    <3 maior e prá sempre.
    Te amo
    bjos

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  3. Tá bem Cristiano Ronaldo, hein? Amigo, tô adorando ler seu blog! Nossas aventuras na Europa ficarão guardadas pra sempre no meu coração! Curta por todos nós aí! Beijão

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