sexta-feira, 31 de maio de 2013

Aah Le Leste [parte 2]: a logística não tem lógica

No passinho viajante, quero ver o Leste todo... Mas como? Por terra, água ou ar? Essa é uma boa pergunta que me fazem com bastante frequência: "Leeeo, o que é melhor pegar: avião, trem, ônibus, barco ou alugar um carro?" E minha resposta é sempre a mais sincera: "depende". Digo isso porque não existe resposta certa ou errada, e a mais adequada depende de uma série de fatores tais quais: orçamento disponível, número de acompanhantes, tamanho/quantidade de bagagens, tempo de viagem, valorização da paisagem, habilidade no trânsito, entre outras. Eu já viajei de praticamente todas as formas possíveis dentro do continente europeu, desde um burro-taxi, até um trem que vai por baixo d'água e outro que vai por cima dela! Após ter experimentado os elementos Ar, Terra e Água, dispenso o Fogo, e opto pelo Ferro(viário), e sem esquecer as lições do Capitão Planeta, não deixo de adicionar o 5º e mais importante elemento: o Coração! Perdoem-me o exacerbado romantismo ao encarar um simples "ir e vir" de uma viagem, mas acho que o segredo de escolher a melhor forma de locomoção está em saber desfrutar o melhor que cada uma das opções tem a oferecer. Amo viajar de trem, pelo seu bucolismo, pelo sentar frente a frente com 3 desconhecidos, pelo seu barulho de "piui tic tac piuiii", e principalmente pelo visual da sua janela "widescreen 64"" que faz inveja a qualquer TV de LED 3D junto com seu aparelho de Bluray. Não por isso deixo de desfrutar a velocidade do avião, o cheiro de mar ou o deslizar dos rios que o ferryboat proporciona, a independência do carro alugado, e até mesmo o balanço swingado dos burros das ilhas gregas ou dos camelos do deserto jordão. Já estou com a cabeça no Oriente Médio, e como diria o samba enredo de 1995 da Imperatriz Leopoldinense: "e balançou não deu certo não, pois não passou de ilusão. Eles trouxeram o balanço do deserto, mas não é gingado certo pra pisar no nosso chão"... Voltemos para Europa, aonde estou agora, mais precisamente em algum ponto da estrada entre a Áustria e a Eslovênia. E aproveito a ocasião para (re)contar como começou essa minha jornada no leste europeu, justamente pela Eslovênia, e espero que minha experiência de locomoção intra-europeia possa ajudá-los num futuro, e que seja em breve, afinal de contas, o verão europeu já está batendo à porta! Aaah o verão...Pois bem, ainda no Brasil, comecei a planejar minha viagem que teria início na Itália e Grécia, com minha família, para só então marchar rumo aos balcãs, mais precisamente, minha querida Croácia, a qual seria minha base para os 20 dias seguintes de viagem. Ocorre que o "ar" não tem muita lógica (financeiramente falando) e a melhor tarifa online que encontrei era referente às pernas: Rio - Roma - Milão (com "stop free" em Roma) / Zagreb - Paris - Rio (com escala de 8h30 em Paris). Ao analisar esses trechos, vocês perceberão "buracos", e eles foram deixados propositalmente, pois as outras cidades a serem visitadas eu optei por fazer por outras vias. Veneza eu optei por chegar de trem: a estação Santa Lucia te deixa na porta da parte "aquática" de Veneza, onde dali em diante quem domina são os gondoleiros e os habilidosos capitães de barcos. E em Veneza, após 3 dias, colocaria minha vó dentro do avião de volta para o Brasil, e depois seguiria num trem da madrugada para a capital croata, tal qual havia feito anos atrás. Porém, no momento em que meu tio e minha tia entraram na viagem, os planos tiveram de mudar (se lembram do "depende"???). A matemática é simples: quatro pessoas são mais que duas, e DEZ malas são muito mais que duas! Antes de viajar, eu, talentosa e precavidamente, tinha convencido minha vó a levar somente uma bagagem, ciente de que seria eu a carregá-la, além da minha, que por menor e mais leve que seja, não deixa de ser um volume. Contudo, com a entrada dos meus tios nos planos, foi tudo por água abaixo!! Minha tia levou tanta coisa que quase pagou excesso de bagagem na IDA... Medalha de Triunfo ao Excesso para uma necessaire com 18 PINÇAS!!! Por favor amigos, chamem o Sérgio Chapelin, pois isso é caso de "hoje no Globo Repórter: "a mulher que vai viajar quinze dias e leva DEZOITO pinças"... Acho que nem se estivéssemos indo para as florestas chinesas depilar ursos pandas dezoito pinças seriam necessárias. Enfim, os dias em Roma e Milão (sobretudo nesta) foram periclitantes no que tange o assunto volume de bagagem... E acreditem: as 18 pinças quase se tornaram 19, se eu não tivesse arrancado a tapas a 19ª das mãos da minha tia enquanto estávamos numa farmácia. Meu tio que não queria mais gastar com excesso de bagagem (pois já tinha gastado muito com o preenchimento das mesmas) sugeriu que alugássemos um carro em vez de irmos de trem, eu pensei em relutar, sabendo que o acesso de carro a Veneza definitivamente não é o mais indicado, e seria eu o motorista da rodada a resolver todos os imbróglios, mas ao me atentar para o fato de que seria o mesmo eu a me ferrar com o embarque e desembarque de 10 malas no trem e carregá-las Itália a dentro, aceitei na hora. Alugamos o maior disponível, um Peugeout 5008, que por pouquíssimo não foi grande o suficiente, e pé na estrada. Como eu acabei de dizer: carro e Veneza não combinam, e isso sempre foi assim e não vai mudar, portanto a não ser que você queira ficar no meio do fogo cruzado entre as placas de trânsito e o GPS, como eu fiquei, e nessa perder a única entrada para Veneza, e fazer o retorno quilômetros depois, não saber onde estacionar, e ao procurar o estacionamento sair pela única estrada de acesso a cidade (sem retorno) e ter que dirigir mais uns 30km por isso, e quando finalmente conseguir mais ou menos se encontrar, achar um carregador de mala com um carrinho especial para subir escada, que após atender a você e sua família queira desistir da profissão de anos, e quando finalmente estiver apto a devolver o carro, descobrir que o posto de entrega é fora da cidade, num ponto que o GPS não detecta e quando finalmente encontrá-lo, você lembrar que precisa abastecer o carro, faça como eu, vá de carro pra Veneza.Após visitar estas 3 cidades italianas, eu e meus tios seguimos para a Grécia, mas antes disso, no aeroporto, eu presenciei um dos maiores absurdos que eu já vi as companhias aéreas cometerem com seus clientes: o valor que meu tio teve que pagar de excesso de bagagem foi tão estratosférico que eu não tenho coragem de aqui revelar, e mais, nos colocou em dúvida se não seria melhor simplesmente abandonar algumas daquelas malas. Porém, quem não sabe brincar não desce pro play, meu tio pagou o que tinha que pagar e seguimos viagem, e no dia seguinte, eu teria uma ideia que só quem tem mais de 100 horas de check-in nas costas poderiaq ter, e que amorteceria bastante aquele rombo no orçamento do meu tio.Ao chegarmos em Atenas, com nossas infinitas bagagens, me dei conta de que um só taxi não seria suficiente, e então procurei e facilmente achei uma van executiva que nos levou confortavelmente até o centro da cidade, que é um pouco distante do aeroporto. Durante o trajeto, conversei bastante com o animado motorista e então tive uma idéia para facilitar toda nossa logística. A situação era a seguinte: ficaríamos duas noites em Atenas, depois voaríamos para Santorini onde passaríamos mais duas noites, para então retornar a mesma Atenas para pegar o vôo para Paris. Agora imaginem todo esse ir e vir em tantos poucos dias com infinitas bagagens? Na adversidade o homem desenvolve as melhores ideias e eu bolei com o motorista um plano pra deixarmos, a caminho do aeroporto, as maiores bagagens, no hotel em que ficaríamos na volta de Santorini, e do qual faríamos o check-out poucas horas depois de ter feito o check-in. Ok, ficou complicado de entender e/ou não pareceu tão brilhante assim, mas fato é que minha ideia parecia um pouco maluca de inicio, mas nos permitiu irmos para Santô bem mais leves, sem pagar excesso de bagagem e sem nem mesmo ter que despacha-las, orquestrei o milagre de fazer Tia Sylvia viajar com uma única bagagem de mão. Como já havia mencionado, em Paris me despedi dos meus tios, e segui viagem, rumo a Ljubjiana, capital eslovena, onde meu amigo croata Zuzu estaria me esperando. Lá passamos um agradável dia, passeando tranquilamente pelas ruas daquela bonita cidade, a noite fizemos o mesmo, e no dia seguinte, de carro, fomos para Zagreb. No caminho tivemos tempo ainda de parar para conhecer as Cavernas de Postojna, ponto turístico indispensável para quem visita a Eslovênia. E que eu tive a sorte de conhecer graças a flexibilidade de se estar com um carro a minha disposição (como disse, esta é sem duvidas a principal vantagem de viajar de carro, juntamente com você mesmo fazer seu horário).Após ter sido tratado como rei por 5 dias em Zagreb, era hora de sair da zona de conforto para poder "crescer" e conhecer e aprender mais, era hora de ganhar o leste, conforme já mencionei no post anterior, e apenas relembro agora para ressaltar a vantagem de estar viajando de carro, e no meu sortudo caso, estar com dois amigos locais que foram respectiva e simultaneamente, motorista e guia. Ao retornar da primeira etapa desta minha viagem pelo leste, composta de Eslovênia, Croácia, Bósnia e Sérvia*, decidi que era hora de sair ainda mais da zona de conforto, composta por: carro, motorista, guia e amigos, para trocar as estradas pelos trilhos, a liberdade de horario pelo apito de trem, as casas de amigos e hoteis pelos albergues. Hungria, Eslováquia e Áustria seriam os destinos.O trajeto Zagreb - Budapeste tinha duração prevista pra 6 horas, e trem costuma não atrasar quase nada, só que, naquele dia eu não dei sorte, e um pedaço da linha do trem estava em obra e eu tive que fazer uma senhora baldeação de trem-onibus-trem que somado ao tempo perdido na fronteira deu um total de 9 horas. A parte boa desta baldeação foi que ao desembarcar do primeiro trem fui abordado por uma brasileira que percebeu que eu era seu conterrâneo graças a bandeira miniatura que está estampada na minha mochila. Ela viajava com sua companheira e ter feito duas amizades brasileiras no meio do leste europeu foi legal, é sempre bom fazer amizades. Budapeste é uma cidade belíssima, com forte cultura e bastante interessante e tem como ponto alto os famosos banhos turcos, clubes com inumeras piscinas  e saunas com diferentes temperaturas. De lá, segui de trem para Bratislava, capital da Eslováquia, onde mais uma vez seria tratado com rei, por uma amiga que eu havia feito em Nice em 2010, e recebido a poucos meses no Rio de Janeiro. Ao desembarcar do trem, esbarrei num elegante senhor que falava ao telefone, pedi desculpas sem olhar para o seu rosto, e de repente ouvi: "Leo?!"... era o "Boss" (Sr. Miro) pai da minha amiga Dajana, que eu também tinha conhecido no RJ. Resumindo, se eu não tivesse esbarrado nele, ele jamais teria me visto pois estava distraído no celular, e tampouco eu o teria encontrado, uma vez que a Dajana era quem deveria estar me esperando na estação. Acasos do destino, que sempre conspira ao meu favor. Minhas horas na Bratislava foram agradabilissímas, mais uma vez tratado como rei, principalmente pelo Boss, que me adora tanto que chegou a declarar que o ponto alto da sua visita ao Rio foi quando eu os dirigia de volta pra copacabana e cantava Barry White... pruma pessoa curtir a minha voz é porque me adora muito.Para conseguir regressar a Zagreb, precisaria enfretar mais uma, e ultima, baldeação desta viagem: um ônibus até Viena, capital da Áustria, onde mais tarde naquele mesmo dia pegaria um outro ônibus para a capital croata. Minha amiga havia me garantido que não seria necessário se dar ao trabalho de comprar o ticket com antecedência, pois sempre sobravam muito lugares naquela linha de ônibus Viena-Zagreb. Por alguma intuição, eu não levei fé na sua tranquilidade, e não quis correr o risco de perder o último transporte do dia, caso contrário, só "amanhã de manhã", e eu tinha que estar de volta a Croácia naquele dia a noite. Conclusão, assim que cheguei a Viena decidi ir comprar meu ticket, chegando a bilheteria a mulher arregalou os olhos e perguntou quantos tickets eu precisaria, eu disse que apenas um e então ela sorriu aliviada, e me deu a notícia de que eu acabara de comprar o último assento daquele ônibus! Só me restou fazer o sinal da cruz e agradecer aos céus por ter me guiado até ali e principalmente por me permitir seguir a minha viagem até o destino final, sem atrasos ou contratempos.

ps: caso vocês tenham se intrigado com o trem subaquático que mencionei logo no início, se trata do TGV Londres - Paris que passa pelo túnel do Canal da Mancha. E caso tenham também se intrigado com o trem que vai por cima d'água, se trata de um que atravessa o mar entre o norte da Alemanha e a Dinamarca, dentro de um porão de um navio com trilhos no chão.                         





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